quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Dia 20, Ítacaventura, 2014 - Córsega e Sardenha

Sair do parque de campismo cedo custa sempre, mas ainda custa mais quando o parque é tão agradável e depois de termos experimentado as actividades de grupo do bar na noite anterior. A praia ali ficou, mas as tendas e as motos foram embora.

No dia 20, porém, o caminho não ia esperar por nós e o número de dias que tínhamos para gozar a viagem infelizmente não se tornara elástico. Como já tínhamos percorrido o parque nacional de Gennargentu pelas estradas do interior, desta vez rumámos a norte para subir ainda mais no litoral da ilha, pela linha da costa, rolando numa estrada bonita e com paisagens que iam melhorando à medida que nos aproximávamos da Costa Esmeralda.

Não sabemos se foi sorte por estar um tempo nublado e fresco, se o ano turístico não foi especialmente bom para a Sardenha, mas as estradas estavam relativamente desimpedidas e rolámos sempre calmamente ao nosso ritmo, sem retenções e sem problemas. Claro que o trânsito era mais intenso que no sul e muito mais que na costa Oeste, mas nada comparado com alguns congestionamentos a que infelizmente nos vamos habituando nas cidades turísticas do nosso país. A costa leste tem praias lindas e a Costa Esmeralda (Costa Smeralda) é, de facto, um local paradisíaco apesar de lotado do ponto de vista da ocupação turística. Não podíamos abdicar de mergulhar naquela região e a Spiaggia del Pirata foi o local escolhido. Parque de estacionamento aparentemente pago, mas talvez só para carros porque a nós ninguém cobrou nada e ala para a praia, cheia, muito pequena e de frente a uma baía plena de luxuosos iates fundeados.

O tempo não nos permitia ficar por ali, apesar de as temperaturas terem aumentado ao ponto de já não apetecer vestir de novo os blusões, capacetes, luvas e o ir de novo ao calor para a estrada. Mas isso faz parte do mototurismo e das limitações temporais com que o grupo rola. Continuámos pela  costa, confirmando o que já havíamos comentado: a mais bela parte da ilha é a que corresponde ao litoral noroeste, até pouco a sul de Oristano. Sabíamos que a travessia para a Córsega tinha de ser feita em breve, de preferência até dia 21, sob pena de perdermos a oportunidade de conhecer a ilha francesa pelo menos com o mesmo grau de pormenor que havíamos dedicado à italiana e por isso procurámos um parque de campismo perto de Santa Teresa di Gallura. O GPS do J. Oliveira foi cruel connosco e mandou-nos por um caminho impossível, que a certa altura desaparece nos arbustos, o que implicou a inversão de marcha em busca de alcatrão. De caminho, Santa Teresa di Gallura, pequena vila com uma praça pitoresca e pequenas ruas, acolheu-nos para uma cerveja bem acima do nosso poder de compra. Vale-nos que Parque de campismo era, além de simpático, dotado de um minimercado de preços aceitáveis e de uma pizzaria que, já pela hora do jantar, nos ajudou a matar a fome e a passar o fim da tarde e o início da noite, nas cadeiras ao ar livre, sob o céu estrelado.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Dias 18 e 19 de Agosto - Ítacaventura 2014

O dia 18 de Agosto começou cedo, na praia, e foi terminar noutra praia, a 195km de distância, já na costa leste da Sardenha. Partimos rumo a Cágliari - caminho que eu começava a conhecer bem - onde abastecemos por ser o local mais barato que econtrámos. Todavia, muitas bombas não aceitam os cartões de débito portugueses e acabámos por ter de procurar mais do que gostaríamos. Nada de grave. O caminho prosseguiu em busca da SS125 (Strada Statale 125) que nos levaria pela costa um bom bocado da ilha primeiro em direcção ao azimute 90º e depois rumo ao 0º.

Pelo caminho, procurámos as ruínas do teatro romano de Nora, mesmo junto ao mar. Encontrámos mas o tempo disponível e o orçamento da viagem não nos permitiu realizar a visita guiada. O sítio arqueológico tem dois bares de apoio e está localizado à beira da praia, sendo uma opção cultural para terminar ou iniciar um dia de férias. De onde tomámos café, dava para avistar algumas das ruínas e perceber que os romanos tinham óptimo gosto, não só por terem teatro, mas pela localização que escolheram para alguns deles.

Depois de Nora, Pula, Cágliari, passámos por muitas aldeias e vilas e parámos para almoçar na zona de Muravera.

As temperaturas, apesar de algum calor, são leves e raramente passam os 27 graus. Ainda assim, as vistas que conseguimos ter das praias ao longo da SS125 são permanentes convites a mergulhos nas águas das baías rodeadas por rocha e arbustos, sempre selvagens. A SS125 está a ser substituída por uma nova SS125 que tem um perfil semelhante aos IP's portugueses, mas vale a pena procurar a antiga SS125 sempre que não esteja subterrada pela nova. A estrada é mais bonita e a paisagem fica muito mais próxima de nós. Além disso, a estrada antiga não está em más condições de pavimento e tem umas curvas que aumentam bastante o prazer de condução.

A viagem, de 195 km foi terminar sensivelmente a meio da ilha, entre o extremo sul e o norte, na costa leste, um pouco a Sul do Parque Nacional de Gennargentu e da Baía de Dorgali. Lotzorai, parque de campismo Iscrixedda.

O parque é muito agradável e a tenda fica em frente a uma praia de águas quentes, separada por uma cancela permanentemente aberta. Além disso, o parque tem óptimas instalações a todos os níveis e os preços são dos melhores que encontrámos até aqui. Talvez por isso, esta foi a primeira noite em que saímos do nosso regime alimentar e que deixámos de lado as latas de conserva e a massa feita no campingaz para ir experimentar as pizzas de itália. Todos sabemos que as melhores pizzas do mundo não são as italianas, mas asseguramos que as do parque Iscrixedda não são nada más. Antes do jantar ainda preparámos as nossas tendas e experimentámos a praia. Ao pôr-do-sol, já quase ninguém nadava, apesar de não haver sequer uma onda no mar Tirreno, por aquela hora.

Pela noite, descobrimos a mesa de ping-pong em que o João Marreiros dominou durante muitos jogos. Faz-se tarde, apesar de agitados pelo desporto, é hora de dormir.

No dia seguinte, o mar parecia outro, com uma forte e divertida ondulação. Mas era dia de passear as motos. Como o parque era muito agradável, decidimos não arrancar para outro e fazer o parque nacional, passando depois à costa para conhecer Cala Gonone e a Baía próxima. A estrada SS125 dentro do parque nacional é maravilhosa, bom piso, paisagens deslumbrantes e boas curvas e levou-nos a conhecer algumas vilas encastradas na montanha. Baunei e Urzulei são lindas vilas que nos permitem olhar o parque como quem está num miradouro, bem altas na montanha. Aproveitámos em as paisagens com algumas paragens curtas para depois seguir em direcção a Cala Gonone. Entretanto, o céu cobriu-se e acabámos por almoçar, provar o torrão sardo - que é muito parecido com o torrão de alicante - e arrancar de novo para baixo, rumo ao nosso parque de campismo junto ao mar. A hora de chegada ainda nos permitiu estar nas ondas e rebolar com elas pela areia durante um bom bocado, até decidirmos ir cozinhar. Desta vez, pedindo autorização aos donos do bar da praia do parque de campismo que, estando fechado àquela hora, nos permitiu jantar de esplanada, junto ao mar com o ceú estrelado sobre nós.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

16 e 17 de Agosto - Ítacaventura - Córsega e Sardenha

A saída de um B&B, como geralmente de um hotel ou mesmo de um parque de campismo, nunca corre bem tal como o cliente gostaria. Ali em Cágliari não foi excepção porque a Vera e o Marreiros não puderam, dado o atraso do avião, chegar e dormir antes das quatro da manhã e foram forçados a acordar poucas horas depois, para cumpriro horário do pequeno B&B: 10.00h.

As camas não eram más mas o pequeno-almoço era bastante minimalista. Nada de especialmente mau, nada de especialmente bom, mas nada, mesmo nada, comparado com a bolonhesa que ainda ficou para mim e para o J. Oliveira.

Não conhecíamos praticamente nada da ilha, mas o simpático proprietário do B&B apontou-nos algumas soluções e destacou algumas regiões do litoral da ilha. Chia, por exemplo, a pouco mais de 60km de Cágliari, foi uma das sugestões. Todo o litoral da ilha, principalmente as encostas a Ocidente, é esplêndido e está repleto de pequenas baías e praias. A densidade de tráfego automóvel não é insuportável, apesar de mais intensa nas horas de ida e de saída das praias. Existe bastante movimento turístico, dominantemente italiana que não contrasta visivelmente com o regionalismo que, apesar de não ser agressivo, se manifesta ainda assim em diversos locais, quer pela presença da bandeira com as quatro cabeças de chefes mouros, quer por uma ou outra inscrição independentista.

A Vera já não conheceu as pequenas ruas de Cágliari, porque saímos cedo da cidade, rolando calmamente por um trajecto escolhido para nos mostrar tanto o interior como o litoral da ilha. A orografia da ilha e as estradas são particularmente bonitas junto à costa, mas a componente histórica das ocupações humanas prévias é uma constante nas zonas costeiras ou interiores, sejam montanhosas ou de planície. O “nuraghe”, “nurági” ou o povo nurágico, conforme as várias designações, é o povo nativo da Sardenha que ergue uma civilização após outros povos menos organizados e com tecnologias muito mais rudimentares. Vários vestígios pré-nurágicos e nurágicos se podem visitar por toda a ilha e existem muitos locais de interesse arqueológico também relacionado com as ocupações posteriores.

O percurso de 16 de Agosto rumou de Cágliari a norte, passando por pequenos povoados atravessando a planície sem paragens dignas de nota. Pouco a Norte da latitude de Sant’Antioco e já próximos do mar, virámos a Sul para conhecer a pequena ilha de ponta a ponta. Aí aprendemos sobre a presença Espanhola na ilha, que a deixou salpicada de torres de vigia. Consta que Espanha levou mais do que lá deixou. Em Sant’Antioco o almoço não foi diferente do que já vinha sendo habitual, num banco de jardim com umas latas de Jchnusa, que, como já referi é a cerveja local, e cujo nome é nada mais nada menos do que o nome fenício da Sardenha. A ilha foi percorrida por estradas secundárias, infelizmente curtas porque Sant’Antioco é minúsculo. Tem, no entanto, vastos conjuntos de interesse arqueológico e percursos culturais identificados que, apesar de não terem sido visitados pela Ítaca, são cativantes e certamente relevantes. De Sant’Antioco, as três motos voltaram a apontar para Leste, rumo a Chia.

Aí chegados, o parque de campismo é uma das principais infra-estruturas turísticas da localidade e é mesmo aí que ficamos. Ver a praia, ver o bar. Comprar o jantar. Antes disso, mas depois de montar as tendas mesmo junto a uma das praias mais próximas, foi tempo de um merecido descanso com direito a experimentar as únicas batatas fritas com sabor a frango assado como acompanhamento de uma bebida fresca.

O dia seguinte foi passado, tranquilamente, na praia de Chia e à noite fomos conhecer o bar mais próximo. Pouco depois, arrancava para Cágliari de novo, perto das 23.00 para ir buscar a Diana que vinha de San Sebastian nesse mesmo dia, via aérea. Chegou a horas o voo da Vuelling e limpou um pouco a má imagem que a companhia tinha deixado nos dias anteriores. A Diana juntou-se a nós em Chia e ainda teve oportunidade de conhecer a animação nocturna do parque de campismo, experimentar a Jchnusa logo na sua primeira noite e comer uma tosta mista pré-fabricada no bar do parque. No dia seguinte, poucas horas nos restaram para partir, mas foi ainda suficiente para, depois de arrumar o material e preparar as motos, espreitar de novo a praia, para a Diana a conhecer, porque os restantes já tinham experimentado as águas quentes e cristalinas onde, com os óculos de mergulho que o J. Oliveira tinha levado, passámos largas horas a nadar.